colunistas do impresso

A vida, o diabo e a pandemia

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Neste ano, estou trocando livros com amigos de um grupo do Whats. Cruzamos os nomes de modo que todos troquem com todos. Dou os que escrevi, e estou sendo surpreendida com obras de autores estranhos. Até agora, a maior surpresa veio com Rui, pois a troca foi antecedida da pergunta: Leste o irlandês Clive Staples Lewis, conhecido como C.S.Lewis? Sem esperar a resposta, disse: Lewis foi professor das Universidades Oxford e Cambridge, romancista, poeta, crítico literário, ensaísta e teólogo, uma das razões para te dar este livro, outra por saber teu gosto por filme. Aí elencou obras deste autor conhecidas por conta do cinema: O Problema do Sofrimento/1940, Cartas de Um Diabo ao Seu Aprendiz/1941, Milagre/1947, Cristianismo Puro e Simples/1952 e As Crônicas de Nárnia. Depois, citou outros romances de ficção e fantasia.

O livro que recebi foi Cartas de Um Velho Diabo ao Seu Aprendiz. Na capa dura de ilustração tétrica, vem escrito que a obra é irônica, astuta, e irreverente. "Dedicada ao amigo J.R.R.Tolkien. Um clássico da literatura cristã, retrato satírico da vida humana, feito pelo ponto de vista do diabo, tem divertido milhões de leitores desde sua primeira publicação em 1941. Correspondência ao mesmo tempo cômica, séria e original entre um diabo e seu sobrinho aprendiz. Apresenta nesta obra... tentações e a superação delas." Motivada, fui para casa devorá-lo, recomendada de prestar atenção ao "diálogo".

De fato, o diálogo entre o jovem demônio e o velho diabo me surpreendeu. Nele, o jovem pergunta: Como você conseguiu enviar tantas almas para o inferno?
O velho: com o medo.
Jovem: bom trabalho. O que eles temiam: guerra, fome?
- Não! Uma doença.
- Eles não ficaram doentes, eles não estavam morrendo, não havia cura?
- Adoeceram, morreram e teve cura.
- Eu não entendi. Velho respondeu: eles, acidentalmente, acreditaram, que a única coisa que tinham que manter a todo o custo era a vida. Eles não se abraçaram, não se cumprimentaram, se afastaram um do outro, renunciaram a todo o contato, e a tudo que era humano. Ficaram sem dinheiro, sem emprego, mas optaram por temer pela vida, mesmo que não tivessem pão. Acreditaram em tudo o que ouviram. Leram jornais e acreditaram cegamente em tudo o que leram. Desistiram de sua liberdade, não saíram de casa, não foram a lugar nenhum. Não visitavam parentes e amigos, o mundo se transformou num grande campo de concentração com prisioneiros voluntários, eles aceitaram tudo só para sobreviver a outro dia miserável.

Eles não viviam, morriam todos os dias. Foi fácil tirar suas almas miseráveis. Terminada a leitura, percebi que o livro espelha nossa pandemia e o isolamento social que estamos vivendo, onde amamos tanto a vida a ponto de deixarmos de viver. Caro leitor, o que pensas deste diálogo escrito em 1941?

CONFIRA OUTROS TEXTOS:
A Páscoa passou - e agora?

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Transcendência e necessidades vitais * Anterior

Transcendência e necessidades vitais *

Brasil vencendo a Covid-19 Próximo

Brasil vencendo a Covid-19

Colunistas do Impresso